Mastigando moedas e fazendo rolinhos (de frango e caviar)

Na orelha da edição brasileira do único romance escrito pela poeta norte-americana Sylvia Plath (1932-1963),  A Redoma de Vidro (Biblioteca Azul), está anotado o seguinte: “Sua obra, composta sobretudo por poemas, mas também por contos, crônicas, correspondência e um vasto diário, chamou a atenção de um grande número de leitores pelo mundo, que veem em seu…

Por que o feijão queima?

O feijão queima, porque a mãe teima em escrever um parágrafo depois de a fervura se erguer e a chama baixar, contando com os quarenta e sete minutos mais demorados de uma pressão. Só que esses passam num átimo. O feijão queima, porque o telefone toca (como assim?) ou porque é preciso pagar umas contas…

Sal, gordura, acidez e calor

É com a cozinheira norte-americana Samin Nosrat que abrimos este programa. Falamos do livro que ela está lançando por esses dias nos Estados Unidos, baseado na filosofia de que, para ser feliz ao fogão e cozinhar bem, é fundamental conhecer profundamente sal, gordura, acidez e calor (elementos que atribuem sabor, equilibram e transformam os alimentos). Depois,…

Um samurai, um homem bom e o livre comer

Takeshi Kasumi tem 60 anos. Trinta e oito desses ele passou no escritório, praticando disciplinados e contidos gestos. Para chegar à oficina, percorria um caminho sempre igual, todos os dias. Nunca viu o restaurante japonês perto da estação, ainda que o lugar nas últimas décadas tenha testemunhado o passar do tempo no vaivém do homem magrinho, gentil,…

Um beijo roubado à flor da pele

Como sarar de uma dor de cotovelo comendo torta de mirtilo? O que fazer ao descobrir que seu marido é amante da mulher do seu vizinho (e novo melhor amigo)? No programa de hoje, com trilha sonora de Otis Redding (Try a little tenderness), Cat Power (The greatest) e Nat King Cole (Perfidia; Quizás, quizás, quizás),…

Notas sonoras, número zero

O Lembraria foi ao ar pela primeira vez há mais ou menos um ano (!), a fim de dar voz às histórias de comida. Voz escrita, visual. Entendemos que nessa memória, quase sempre presente e nostálgica, nos contamos e enxergamos. Não há novidade ou exagero em dizer que a vida é marcada pela relação com…

Uma dorzinha no “voltar para casa” (ou um amor de domingo)

Todos os dias, a escritora Noemi Jaffe publica em seu Twitter etimologias que acompanho agradecida. É como se o dicionário abrisse a si mesmo na sorte da vez. Esse grifo dá voz ao sentido profundo das palavras e não raro arranca de mim um sorriso ou me faz erguer as sobrancelhas. No dia 25 de…

Com glacê e com afeto*

Fim de festa de aniversário do filho da vizinha, do casamento do amigo, do batizado da sobrinha. Tenho visto nos pratinhos de bolo largados aqui e ali camadas de cobertura dispensadas de propósito. Chantilly de canto. Glacê esquecido. Uma plaquinha inteira de pasta americana mordida “só para experimentar”. Devo fazer justiça à ganache de chocolate,…

Cadernos de família, livros de receita: modo de usar

Por escrito, as receitas são sempre mais bonitas, gostosas e possíveis do que na realidade? Talvez. Depois de quebrar os ovos, enfarinhar o avental e derramar açúcar na massa do bolo exatamente como mandou aquele caderno que está na família há tanto tempo, o que poderia dar errado? Tudo. E como explicar um resultado ainda melhor,…

Sobre enxergar o extraordinário no ordinário

Depois do ótimo Cartas Extraordinárias, Shaun Usher, pesquisador e organizador, assina Listas Extraordinárias, que não é menos distrativo. O prazer de virar as páginas equivale a devorar chocolates na cama sem precisar saber que horas são. Os dois são publicados no Brasil pela Companhia das Letras. No primeiro livro, Usher trabalhou correspondências em contextos históricos variados. Quem assiste…