Neta de agricultores, Andressa Santos é paulista de Angatuba (1995). Cresceu em São José do Barreiro e hoje vive em São Paulo, no bairro do Bom Retiro. Para ela, a fatia de memória não existe em uma receita específica, mas no cheiro de cuidado da comida de sua avó, da cozinha do sítio, cheia de vozes e de mulheres e pratos tradicionais. “Hoje não conseguimos trazer o mesmo sentimento às reuniões. Faltam figuras essenciais.” Na lembrança de Andressa, no entanto, esse aroma continua sendo um afago importante.
Minhas primeiras lembranças da infância têm o cheiro de cuidado da comida da minha avó. Desde muito antes do que posso me lembrar, todos os feriados tradicionais eram comemorados na casa dos meus avós maternos; no cardápio, risadas, histórias e muito amor.
As reuniões familiares tão aguardadas por mim, eram a representação da união. As vozes sobrepostas eram ouvidas do portão, [vinham de] uma cozinha lotada de mulheres cozinhando as tradicionais receitas caseiras, do campo, com a churrasqueira a todo o vapor e as cervejas pulando de mão em mão.
Comíamos o de sempre. Churrasco, maionese, arroz. Tudo simples, mas grandioso. Combinava com o cenário. Uma casa no sítio cercada de árvores e animais. Uma ilustração da vida dos meus avós, agricultores.
Hoje, não conseguimos trazer a mesmo sentimento às reuniões. Faltam algumas figuras essenciais. Mas, não importa onde eu esteja, sempre sinto o cheiro do cuidado da comida da minha avó.”
***
Este depoimento deu origem a um verbete em O dicionário das comidas impossíveis, que surge das respostas ao questionário Fatias de memória.
Clique aqui para contar sua história e nos ajudar a preencher esse relicário.